O reto é a seção do trato digestivo acima do ânus, onde as fezes são mantidas antes de serem expelidas do corpo pelo ânus. O ânus é a abertura, na extremidade do trato digestivo, pelo qual as fezes saem do corpo. A hemorroida surge quando acontece a dilatação dos vasos sanguíneos da parte inferior do reto ou do ânus. Quando os vasos incham pelo aumento da pressão e nódulos se formam dentro ou fora do ânus, pode causar hemorragia. É muito comum que as hemorroidas apareçam em função de gravidez, esforço repetido ao ir ao banheiro, trabalho pesado frequente ou mesmo uma constipação, que acaba agravando o esforço para evacuar.
Nos casos menos graves, não há necessidade de intervenções. Recomenda-se o uso de emolientes fecais ou aumento do volume das fezes com suplementos de fibra, o que alivia o esforço durante a evacuação. Deixar o ânus imerso em água morna, o chamado banho de assento, também contribui para o alívio dos sintomas. A imersão é realizada com a pessoa de cócoras ou sentada em uma banheira ou bacia por aproximadamente 5 minutos ou usando-se um recipiente com água morna (não quente) colocado no vaso sanitário. Também utilizamos medicamentos específicos e para o alívio dos sintomas. Casos moderados e graves podem ser tratados por meio de procedimentos ambulatoriais como a ligadura elástica ou fotocoagulação com raio infravermelho (uso de laser). Há casos em que há necessidade de remoção cirúrgica. Cada tratamento e técnica utilizada devem ser individualizados para oferecer o maior benefício, com o mínimo de riscos.
A fissura é uma ‘ferida” causada geralmente por um trauma. O paciente sente dor ao evacuar e às vezes sangramento no local. As causas são variadas, mas as mais comuns no consultório são: esforço para evacuar em função de fezes ressecadas ou muito grossas; relacionamento sexual por via anal; doenças inflamatórias intestinais e até limpeza excessiva com papel higiênico.
A fissura é tratada clinicamente com uso de pomadas e medidas para regularizar a frequência das evacuações e a consistência das fezes. É importante tratar a CAUSA da fissura, caso contrário o ferimento ocorrerá novamente (é comum sarar e voltar). O tratamento cirúrgico só é indicado quando há muita dificuldade de cicatrização, podendo ser usadas técnicas que envolvam utilização de retalhos de pele. Atualmente, devido às possíveis sequelas do tratamento cirúrgico, os pacientes podem se beneficiar da injeção da toxina botulínica, visando o relaxamento da musculatura, o reestabelecimento do afluxo sanguíneo e consequentemente melhores condições para cicatrização da lesão.
Quando ocorre um abscesso, em cerca de metade dos casos, a secreção purulenta é eliminada e forma-se uma fístula anal. A fístula é, na verdade, a evolução natural do processo de cura de um abscesso. A fístula anal comunica a região interna do reto até a pele do períneo ou das nádegas. Se não tratadas corretamente, as fístulas podem infectar novamente, formando um novo abscesso. Outra causa comum de formação de fístula anal é em decorrência de doenças inflamatórias do intestino.
O tratamento é cirúrgico e a técnica mais consagrada é a fistulotomia/fistulectomia: a fístula é aberta e eliminada completamente. O corte dos esfíncteres pode reduzir a habilidade para controlar a saída dos gases e das fezes. Há outras opções cirúrgicas, como: Ligadura do Trato Interesfincteriano (LIFT) ou Retalho mucoso. A decisão é tomada de acordo com o histórico do paciente avaliando os menores riscos e buscando reduzir chances de retorno do problema. Outras técnicas inovadoras, como a cola de fibrina, a utilização de células tronco e o VAAFT (Video Assisted Anal Fistula Treatment) também fazem parte do arsenal para o tratamento dessa enfermidade.
A Doença de Crohn é uma doença inflamatória séria do trato gastrointestinal que pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal. Os sintomas variam de leve à grave, sendo os mais comuns: diarréia, cólica abdominal e sangramento retal. Apesar de ser uma doença crônica (sem cura), com o devido tratamento é possível ter uma vida ativa e produtiva. É muito comum que haja confusão entre a doença de Crohn e a colite ulcerativa, justamente porque ambas são agrupadas na categoria de doenças inflamatórias intestinais (DII).
Atualmente, o arsenal de medicamentos para alcançar a remissão dos sintomas e a cicatrização da mucosa intestinal aumentou e seguimos com muitas pesquisas na área para possibilitar o uso de novos medicamentos. Em alguns casos, quando existe o estreitamento da luz intestinal (estenose), a comunicação das áreas inflamadas do intestino com outros segmentos intestinais e outros órgãos (fístulas) ou o acometimento perianal e perineal, o tratamento conjunto com procedimentos cirúrgicos é imprescindível.
A colite ulcerativa é uma doença inflamatória do cólon, intestino grosso, que se caracteriza por inflamação e ulceração da camada mais superficial do cólon. Os sintomas incluem caracteristicamente diarréia, muito frequente com sangramento retal e, às vezes, dor abdominal. A colite ulcerativa afeta apenas o cólon. A inflamação é máxima no reto e estende-se até o cólon de modo contínuo, sem nenhuma área de intestino normal poupada.
Assim como acontece no Doença de Crohn, hoje existem diversas drogas à disposição para a tentativa do controle da doença, que pode ser controlada em mais de 90% dos casos. Em algumas situações, a cirurgia faz-se necessária. Apesar de tratar-se de um procedimento de grande porte, a retirada total do cólon traz a possibilidade do paciente tornar-se livre desta enfermidade.
A doença é uma inflamação da camada superficial do intestino. Não há causa definida, mas é associada a fatores hereditários e componentes imunológicos. Afeta geralmente pessoas jovens, manifestando-se por diarreia com sangue vivo nas fezes. O diagnóstico se confirma por exclusão de outras doenças e uma retossigmoidoscopia com biópsia é obrigatória.
O tratamento em princípio é clínico, por longo período ou por toda a vida. Medicamentos específicos para controle da inflamação intestinal, tais como sulfassalazina, imunossupressores e/ou imunobiológicos também são prescritos. Há indicação cirúrgica para os casos em que não se consegue controlar a doença, mesmo com o melhor do tratamento clínico e nos casos que ao longo dos anos desenvolvem displasia ou câncer no cólon. Outras indicações para o tratamento cirúrgico são condições agudas como a hemorragia maciça, a perfuração ou infecção. A cirurgia ideal nestes casos de urgência é retirada total dos cólons e do reto sendo colocado o intestino delgado (íleo) para funcionar na parede abdominal (ileostomia definitiva).
Entretanto, uma técnica possibilita a reconstrução do trânsito intestinal através da confecção de um reservatório ileal (bolsa ileal) que permite que o paciente volte a evacuar pelo ânus. Nos casos em que se utiliza a técnica de reconstrução do trânsito intestinal é comum que seja realizada uma ileostomia temporária com a intenção de assegurar uma melhor cicatrização dos pontos de sutura no intestino delgado com o reto ou ânus.
O prolapso retal é a exteriorização do reto através do orifício anal, podendo ser completo ou parcial. Seu surgimento é mais frequente na infância ou em idade avançada, acometendo os dois sexos, mas sendo mais frequente em mulheres. O diagnóstico deste problema se faz através do exame proctológico, quando é possível notar a saída do reto, ou de parte dele, através da fenda anal. Durante este exame é comum que o coloproctologista solicite ao paciente que simule o esforço para evacuar, para melhor perceber o problema.
Caso não ocorra a resolução espontânea, cirurgias anorretais podem resolver bem o problema. A escolha do tratamento a ser realizado depende de uma série de fatores como idade, condições clínicas, tamanho do prolapso e detalhes da anatomia de cada paciente. O retorno do problema pode ocorrer com qualquer tipo de tratamento, principalmente se o esforço exagerado para evacuar, típico em que tem prisão de ventre, não for controlado.
Os condilomas são pequenas lesões com formato e aparência de verrugas que podem afetar a pele em torno do ânus. Outras regiões vizinhas também podem ser afetadas pelas lesões, principalmente a pele da área genital, períneo, nádegas e virilhas. É uma doença sexualmente transmissível e o agente causador da doença é o Papiloma Vírus Humano, conhecido como HPV (human papilomavirus). A transmissão da doença ocorre pelo contato íntimo sem proteção, não havendo necessidade de penetração para o surgimento de lesões no ânus. É comum um prurido (coceira) no local, sangramento e até dor. Normalmente o paciente percebe as verrugas durante a higiene, porém, algumas lesões podem ser internas, necessitando de uma avaliação médica, daí a importância de exame preventivos da região anal, realizados sempre pelo coloproctologista.
O tratamento é clínico com aplicação de medicamentos. Em casos mais graves ou com verrugas muito numerosas há necessidade de intervenção cirúrgica como a eletrocoagulação sob anestesia. Quando não tratadas as lesões podem se espalhar ou crescer. É necessário um controle periódico no consultório do coloproctologista e aconselha-se que o(a) parceiro(a) também passe por avaliação
O cisto pilonidal é formado por uma bolsa revestida por células epiteliais que contém pelos, fragmentos de pele, glândulas sebáceas e sudoríparas em seu interior. Normalmente, o cisto fica localizado perto do cóccix e pode ser facilmente infectado. É comum que apareça bem no início do sulco que separa as duas nádegas, alguns centímetros acima do ânus. Os sintomas de um cisto infectado incluem dor, pele avermelhada ou drenagem de pus ou sangue. Os homens respondem por 80% dos diagnósticos. Pessoas que permanecem muito tempo sentadas, grandes obesos ou com excesso de pelos na região do cóccix têm mais chances de ter cisto pilonidal.
É recomendado realizar uma drenagem da secreção associada a administração de antibióticos, o que disponibiliza de imediato o alívio do paciente. Após a diminuição do processo inflamatório, indica-se a excisão cirúrgica do cisto, porém, quando feita por meio de cirurgia aberta é comum que a ferida leve até meses para cicatrizar. Utilizando a técnica minimamente invasiva para o tratamento de cistos pilonidais conhecida como E.P.S.I.T. (Endoscopic Pilonidal Sinus Treatment) é possível conseguir melhores resultados estéticos e menor tempo de recuperação.
O procedimento é realizado com o auxílio de um instrumento ótico fino (fistuloscópio), conectado a um sistema de vídeo. As feridas pós-operatórias ficam com cerca de 2cm, dependendo de cada caso, e o período de cicatrização médio é de aproximadamente 3 semanas.